A segunda metade do século XIX representou um período de grande transformação econômica da história brasileira. Esta transformação foi conseqüência da abolição do tráfico africano, ocorrida ainda no Brasil Imperial, após 1850, mas seus efeitos se fizeram sentir ao longo de toda a segunda metade do Século XIX, desencadeando um período de franca prosperidade e larga ativação da vida econômica do país, mas boa parte dos empreendimentos que se fez foi apenas resultado da especulação, estimulada pela liberação de capitais que antes eram utilizados no tráfico negreiro e também pela inflação de crédito e grandes emissões de papel-moeda.
Inegavelmente, porém, podia se constatar que o país entrava numa fase antes desconhecida, em relação às atividades financeiras, surgindo um capitalismo, embora incipiente e foi na agricultura que se observaram os maiores crescimentos da produção brasileira, tendo seu ponto forte na lavoura do café do Rio de Janeiro, que contou com uma base financeira e de crédito, além de um aparelhamento comercial que permitiu considerável expansão.
O período da Guerra do Paraguai, entre 1865 e 1870, serviu para comprometer as finanças do Brasil, porque o país teve que arcar com grandes gastos que causaram algum desequilíbrio financeiro que levaram o Império a ter dificuldades para equilibrar seus orçamentos. Os males foram agravados pelos empréstimos, principalmente externos, feitos durante a guerra, fazendo com que o Império se extinguisse vinte anos depois sem ter podido restabelecer a ordem financeira.
Apesar disto, o progresso material do Brasil, já iniciado antes do conflito retomou o seu curso logo depois, num ritmo rápido e seguro. Os decênios de 70 e 80 foram de grande prosperidade para o país, mostrando capacidade de recuperação de um organismo econômico em pleno crescimento. O surto de atividades iniciado em 1850 não se interrompeu e já se podia observar a concentração de capitais de certo vulto, provenientes da agricultura, cuja prosperidade foi notável. Neste período também teve início a substituição do trabalho escravo por trabalhadores livres, que mobilizou os capitais antes investidos na propriedade humana.
Por outro lado a vida financeira do país aparelhou-se com a multiplicação de bancos, de empresas financeiras, de companhias de seguro, de negócios da bolsa, que permitiram captar e mobilizar em escala significativa as fontes de acumulação capitalista. A antiga colônia se modernizou com o esforço para sincronizar sua atividade com o mundo capitalista contemporâneo, mas os grandes empreendimentos industriais, indispensáveis para a realização de qualquer atividade posterior, estavam ainda abaixo das possibilidades do capital privado local que apenas dava seus primeiros passos, desta forma o capital estrangeiro, principalmente o inglês desempenhou um importante papel.
O Império, quando em 1889 se extinguiu deixou coberta uma ampla e importante etapa da evolução econômica do país, que foi recebida pela República. O aparelhamento técnico havia se desenvolvido bastante, as estradas de ferro, que tiveram início em 1852 já somavam uma expressiva extensão, a navegação a vapor se estendera largamente através de linhas internacionais e uma bem feita articulação ao longo do litoral brasileiro desde o Pará até o Rio Grande do Sul, prolongando-se pelo Rio da Prata e pela bacia dos rios Paraná e Paraguai até Mato Grosso, não deixando de alcançar também o Amazonas.
O Império deixou também desenvolvida uma rede telegráfica de quase 1000 km de linhas, articulando-se por todas as capitais e cidades mais importantes do país, isto sem contar com os cabos submarinos que ligavam o Brasil a diferentes partes da Europa e América. Juntava-se a isto o relativo progresso industrial, das manufaturas têxteis em particular nas vizinhanças das fontes de matéria-prima, o algodão. A energia para as indústrias que se concentravam no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e alguns centros do Nordeste, como Pernambuco e Bahia, era ainda um problema secundário.
A questão de mão-de-obra nos maiores centros, onde a indústria se localizava, foi resolvida a baixo custo com uma população livre, mas pobre, porque para a indústria nascente o trabalho escravo se mostrou completamente ineficaz. Mas, a indústria brasileira estava apenas no começo e ainda tinha um longo caminho para percorrer antes de sair de sua mediocridade e teria que lutar com dificuldades que limitaram consideravelmente seus horizontes. Este painel apesar de todas as transformações se manteria porque faltava o que a moderna indústria fabril e mecanizada exigia como fundamental: um mercado amplo e em contínua expansão, que exigia condições sociais e econômicas que a grande massa da população brasileira não podia oferecer.
A economia brasileira estava assim presa num círculo vicioso que somente transformações futuras de vulto poderiam livrar: ela estava completamente dominada por uma atividade produtiva baseada no trabalho escravo e voltada inteiramente para uns poucos gêneros agrícolas destinados à exportação. Este fato se de um lado representava a riqueza do Brasil, por outro lado era a causa de suas limitações, porque estava restrita ao monopólio de um produto muito procurado nos mercados internacionais: o café, complementado apenas pela borracha, pelo açúcar e pelo cacau. Desta forma o Brasil tinha uma base econômica muito precária, dependente de uma conjuntura de incertezas que estava fora de seu controle e isto viria a ser demonstrado de forma dolorosa.
Graças ao café esta fase foi marcada pela expansão da economia e das finanças públicas que apesar dos déficits constantes podia fazer frente às necessidades administrativas e realizar algumas obras de vulto; até a moeda sempre tão precária, se fortaleceu e dava à Monarquia certa estabilidade; o crédito brasileiro no exterior era sólido, o que assegurava aplicações de capitais estrangeiros, sobretudo em empréstimos públicos. Havia assim certo equilíbrio da economia, mas, esta situação embora sendo conveniente para o momento presente, representava um saque ilimitado sobre o futuro.
O que impediu a ocorrência de problemas mais graves foi a coincidência entre os déficits crônicos das finanças públicas e a contínua expansão da economia do país, que de modo geral tinha numerário suficiente e as emissões não degeneravam em inflação. Mas pode-se dizer que o Brasil sob o Império não gozou, em nenhum momento de estabilidade e segurança financeira, e a instabilidade não permitiu a consolidação da vida econômica e social, o que seria fonte de problemas para o futuro.
Uma importante contradição da evolução econômica nesta fase foi a questão do trabalho. A decadência da escravidão, representada pela redução contínua da massa escrava e a crise crônica da mão-de-obra, fazia com que o colapso do sistema produtivo fosse previsto e isto se refletia em largas agitações políticas no Parlamento, na imprensa, nas acirradas polêmicas da época, havia quem achasse que a abolição da escravidão decretaria o fim da economia da grande lavoura porque seria impossível conviver com o trabalho livre e assalariado substituindo a escravidão. Mas não foi isto que aconteceu, porque a lavoura do café continuou a se desenvolver sob o regime do trabalho livre de imigrantes europeus, mas não se pode dizer que a adaptação tenha sido de fácil realização.
Outro ponto que deve ser considerado foi a grande modificação do equilíbrio demográfico e geo-econômico do país na segunda metade do século XIX. Primeiramente porque a decadência de uma região densamente povoada desde a colônia, como a do Nordeste e seu empobrecimento, resultaram em correntes demográficas fortes e constantes, que partiam em demanda de regiões com melhores perspectivas de vida. e a grande seca de 1877-80 acelerou o processo e despovoou o interior nordestino do Ceará até a Bahia. As regiões que a população buscava eram sobretudo: o vale amazônico por causa da borracha; o sul da Bahia pelo cacau e finalmente São Paulo o grande pólo em crescimento.
Outro fator importante e fundamental para o futuro foi a colonização estrangeira no extremo sul do país, particularmente o Rio Grande do Sul. Nesta região não existia a grande lavoura e o imigrante não se fixou como assalariado, mas encontrou facilidades para estabelecer pequenas propriedades e assim nesta região, ao invés de grande lavoura do tipo do café, açúcar ou algodão que produziam para o comércio exterior, surgiram pequenas culturas e outras atividades de caráter local, destinadas ao abastecimento interno do país.
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