1o. Ciclo da Borracha no Acre
(1877 - 1913)
Por Eduardo Carneiro*
http://www.brasilescola.com/historiab/ciclo-borracha.htm
ECONOMIA
- Por causa da crescente demanda internacional por borracha, a partir da segunda metade do século XIX, em 1877, os seringalistas com a ajuda financeira das Casas Aviadoras de Manaus e Belém, fizeram um grande recrutamento de nordestinos para a extração da borracha nos Vales do Juruá e Purus.
- De 1877 até 1911, houve um aumento considerável na produção da borracha que, devido às primitivas técnicas de extração empregada, estava associado ao aumento do emprego de mão-de-obra.
- O Acre chegou a ser o 3° maior contribuinte tributário da União. A borracha chegou a representar 25% da exportação do Brasil.
- Como o emprego da mão-de-obra foi direcionado à extração do látex, houve escassez de gêneros agrícolas, que passaram a ser fornecidos pelas Casas Aviadoras.
Sistema de Aviamento
- Cadeia de fornecimento de mercadorias a crédito, cujo objetivo era a exportação da borracha para a Europa e EUA. No 1° Surto, não sofreu regulamentações por parte do governo federal. AVIAR= fornecer mercadoria a alguém em troca de outro produto.
- O Escambo era usual nas relações de troca - as negociações eram efetuadas, em sua maioria, sem a intermediação do dinheiro.
- Era baseado no endividamento prévio e contínuo do seringueiro com o patrão, a começar pelo fornecimento das passagens.
- Antes mesmo de produzir a borracha, o patrão lhe fornecia todo o material logístico necessários à produção da borracha e à sobrevivência do seringueiro. Portanto, já começava a trabalhar endividado. Nessas condições, era quase impossível o seringueiro se libertar do patrão.
"O sertanejo emigrante realiza ali, uma anomalia, sobre a qual nunca é demasiado insistir: é o homem que trabalha para escravizar-se". Euclides da Cunha.
SOCIEDADE
(Seringalista x Seringueiro)
Seringal: unidade produtiva de borracha. Local onde se travavam as relações sociais de produção.
Barracão: sede administrativa e comercial do seringal. Era onde o seringalista morava.
Colocação: era a área do seringal onde a borracha era produzida. Nesta área, localizava a casa do seringueiro e as "estradas" de seringa. Um seringal possuía várias colocações.
Varadouro: pequenas estradas que ligam o barracão às colocações; as colocações entre si; um seringal a outro e os seringais às sedes municipais. Através desses trechos passavam os comboios que deixavam mercadorias para os seringueiros e traziam pélas de borracha para o barracão.
Gaiola: navio que transportava nordestino de Belém ou de Manaus aos seringais acreanos.
Brabo: Novato no seringal que necessitava aprender as técnicas de corte e se aclimatar à vida amazônica.
Seringalista (coronel de barranco): dono do seringal, recebiam financiamento das Casas Aviadoras.
Seringueiro: O produtor direto da borracha, quem extraia o látex da seringueira e formavam as pélas de borracha.
Gerente: "braço-direito" do seringalista, inspecionava todas as atividades do seringal.
Guarda-livros: responsável por toda a escrituração no barracão, ou seja, registrava tudo o que entrava e saía.
Caixeiro: Coordenava os armazéns de viveres e dos depósitos de borracha.
Comboieiros: responsáveis de levar as mercadorias para os seringueiros e trazer a borracha ao seringalista.
Mateiro: identificava as áreas da floresta que continha o maior número de seringueiras.
Toqueiro: Abriam as "estradas".
Caçadores: abastecia o seringalista com carne de caça.
Meeiro: seringueiro que trabalhava para outro seringueiro, não se vinculando ao seringalista.
Regatão: negociantes fluviais que vendiam mercadorias aos seringueiros a um preço mais baixo que os do barracão.
Adjunto: Ajuda mútua entre os seringueiros no processo produtivo.
- Havia alta taxa de mortalidade no seringal: doenças, picadas de cobra e parca alimentação.
- Os seringueiros eram, em sua maioria, analfabetos;
- Predominância esmagadora do sexo masculino.
- A agricultura era proibida, o seringueiro não podia dispensar tempo em outra atividade que não fosse o corte da seringa. Era obrigado a comprar do barracão.
CRISE (1913)
- Em 1876, sementes de seringa foram colhidas da Amazônia e levadas a Inglaterra por Henry Wichham.
- As sementes foram tratadas e plantadas na Malásia, colônia inglesa.
- A produção na Malásia foi organizada de forma racional, empregando modernas técnicas, possibilitando um aumento produtivo com custos baixos.
- A borracha inglesa chegava ao mercado internacional a um preço mais baixo do que a produzida no Acre. A empresa gumífera brasileira não resistiu à concorrência Inglesa.
- Em 1913, a borracha cultivada no Oriente (48.000 toneladas) superava a produção amazônica (39.560t). Era o fim do monopólio brasileiro da borracha.
- Com a crise da borracha amazônica, surgiu no Acre uma economia baseada na produção de vários produtos agrícolas como mandioca, arroz, feijão e milho.
- Castanha, madeira e o Óleo de copaíba passaram a ser os produtos mais exportados da região.
- As normas rígidas do Barracão se tornaram mais flexíveis. O seringueiro passou a plantar e a negociar livremente com o regatão.
- Vários seringais foram fechados e muitos seringueiros tiveram a chance de voltar para o nordeste.
- Houve uma estagnação demográfica;
- Em muitos seringais, houve um regresso a economia de subsistência.
CONSEQÜÊNCIAS
- Povoamento da Amazônia.
- Genocídio indígena provocado pelas "correrias", ou seja, expedições com o objetivo de expulsar os nativos de suas terras.
- Povoamento do Acre pelos nordestinos;
- Morte de centenas de nordestinos, vítimas dos males do "inferno verde".
- Revolução Acreana e a conseqüente anexação do Acre ao Brasil (1889-1903);
- Desenvolvimento econômico das cidades de Manaus e Belém;
- Desenvolvimento dos transportes fluviais na região amazônica;
Eduardo de Araújo Carneiro, licenciado em História pela UFAC, concludente do Curso de Economia/UFAC e está se especializando em linguística e literatura da Amazônia. É professor de História do Universo Pré-Vestibular no Acre.
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